Há dias, estava numa sala de espera e, entre tantas pessoas que por lá estavam como eu, dentro daquele que é hoje o ambiente de uma sala de espera, olhos postos nos telefones ou telefones postos no ouvido, ouço, inadvertidamente, alguém numa conversa telefónica.
Não ouvia o que do outro lado era dito, mas não foi difícil perceber que quem falava tinha deixado um determinado trabalho e estava, nesse dia, pronta a iniciar um novo desafio.
Chamou-me de tal forma a atenção que resolvi tomar nota da conversa, já que demonstra algo importante que muitas vezes é negligenciado nas empresas: a voz dos Colaboradores.
A conversa foi, basicamente, a seguinte (cito):
“Sim, o último dia foi hoje! Acabou!
...[pausa]
Acreditas que a Diretora de Recursos Humanos não apareceu na entrevista de saída, nem disse nada?
...[pausa]
Pois, se é esta a consideração que merecemos, fiz bem mudar.
…. [pausa]
Trabalho menos, ganho mais e o ambiente é respirável.
...[pausa]
Pelo menos mandava uma mensagem a dizer que não podia, a pedir desculpa e desejar o melhor!”
Desconheço, como é evidente, a história completa, a empresa, a função da pessoa ou a Diretora de Recursos Humanos, e é importante ler estas linhas como um fragmento de uma conversa. Há sempre uma história escondida ou, no mínimo, duas versões da mesma história. Nada me garante que esta colaboradora se “portou bem” com a empresa. Possivelmente não ou, quem sabe, sim!
O importante é que, nesse dia, alguém saiu de uma empresa de forma detratora, a criticar uma organização específica que, por acaso, ouvi qual era, mas não vou citar ou identificar. O que choca é que saiu detratora, também pelo facto de a pessoa que provavelmente a contratou não se ter dignado dizer “adeus e felicidades”, nem mesmo numa mensagem.
Sabemos que há casos em que a pessoa iria sempre dizer mal, ou seja, a conversa poderia ser invertida se a dita mensagem tivesse surgido e, nesse caso, quando a vontade de dizer mal é superior, provavelmente em vez deste discurso ouviria algo como “a hipocrisia de me desejar felicidades”. Não sei e é impossível saber!
Reforçando que não sei se a saída desta pessoa foi ética ou se ela era competente ou dedicada, foco-me na importância que deve ser dada à voz de qualquer Colaborador que entra ou sai de uma organização. As empresas, de uma forma geral, estão hoje atentas à voz dos seus Clientes e, em muitos casos, a mesma importância não é dada à voz dos Colaboradores, que pode ser igualmente promotora ou detratora, como aparentou ser o caso.
A excelência organizacional não se constrói apenas através da voz dos Clientes. Ela está igualmente assente no respeito e na valorização dos Colaboradores. Quando um Colaborador, ao sair, se sente ignorado, a imagem da empresa provavelmente sofrerá danos. A ausência de gestos simples, como um adeus ou felicidades, pode transformar um ex-colaborador num detrator.
Em última análise, a ética e o respeito nas relações profissionais devem ser inegociáveis. Mesmo em situações desafiadoras, manter um comportamento ético e respeitoso faz com que a construção de uma cultura de respeito ecoe positivamente dentro e fora da organização.
No fim deste artigo, deixo a reflexão: lembre-se que, além de mim, muitas outras pessoas na sala de espera ficaram a saber qual era a empresa mencionada naquele telefonema. Pela minha parte, não irei usar a informação ou citar a entidade, mas acredito tudo isto dá o que pensar!