Cristiano Ronaldo atingiu recentemente a impressionante marca dos 900 golos na sua carreira, um feito com que poucos atletas poderiam sequer sonhar. A forma como celebrou este golo, mais contida do que o seu habitual 'Siiimmm!' a que nos habituou nos outros 899, há já mais de duas decadas, destacou a profundidade emocional desse momento histórico e trouxe-me o impulso de atacar as teclas e escrever o que me ocorre nas linhas abaixo.
Ontem, tomei conhecimento de outra conquista histórica: os nossos atletas paralímpicos alcançaram o melhor resultado dos últimos 20 anos. Decidi, por isso, dar-lhes o merecido destaque num futuro artigo.
Nas poucas vezes que escrevi sobre futebol, sempre afirmei não perceber nem apreciar o desporto em si. Seja como for, a minha dedicação às nossas Seleções sempre foi algo que afirmei e afirmo como boa patriota que me considero.
CR7 atingiu uma marca que, para muitos jogadores, seria inalcançável: 900 golos na carreira. Como portuguesa, é impossível não sentir um orgulho imenso ao testemunhar este feito. É um jogador que transcendeu as fronteiras do desporto, tornou-se uma lenda viva, não apenas pelo número de golos, mas pela dedicação, trabalho árduo e, acima de tudo, pelo amor incondicional à nossa seleção nacional. Se há uns 30 anos era difícil explicar a alguém de um País distante onde era Portugal, em 2017, em pleno Vietnam, bastava dizer Ronaldo ou Cristiano e o assunto estava arrumado! Passou a ser assim por esse mundo fora. É caso para dizer: há muito mais para além do jogador de futebol.
Há, porém, algo que me intriga – e, por vezes, frustra – profundamente: a forma como tantos parecem empenhados em desvalorizar este exemplo singular do desporto. A cada novo recorde, a cada novo golo, há sempre quem escolha destacar o que, segundo eles, está em declínio, ao contrário de enaltecer o que continua a realizar. Parece que, mesmo após 900 golos, sempre se arranja uma forma de dizer qualquer coisa que não “joga a favor”.
Se o golo 900 foi um marco ainda, por vezes, questionado, o golo 901 rapidamente abafou muitos críticos. Na ausência de argumentação, eis que se inicia uma nova discussão: será que vai estar no próximo mundial? E lá vem a janela de oportunidade de virar um feito histórico numa qualquer retórica, que até pode fazer sentido, mas que me tira um pouco do sério: "O Ronaldo quer chegar ao golo 1000 e não devemos jogar para os objetivos pessoais de Ronaldo", ouvi a determinada altura, dito nem sei por quem! Um tipo de narrativa, para mim, desconcertante. Como se o sucesso dele incomodasse e tivéssemos de procurar rapidamente forma de inverter tudo outra vez. "Será que o sucesso dele incomoda?" - é o que me incomoda mais, e por isso escrevo!
As suas metas pessoais são, sem dúvida, ambiciosas, ou não teria a concretização mundialmente reconhecida. O caminho até aos 1000 golos, se é que esse número será alcançado ou sequer se é sua vontade, é algo que só ele sabe.
Volto ao golo 900. O golo onde o tradicional "Siiiiim", que nos habituámos a ouvir ecoar pelos estádios, foi, desta vez, substituído pela emoção pura. Talvez tenha sido a magnitude do momento, talvez a alegria de ainda estar a desafiar o tempo e os críticos. Ronaldo, que tantas vezes gritou de vitória com o mundo, permitiu-se sentir profundamente o que acabara de alcançar.
Sem dúvida que é um fenómeno, um caso de estudo no mundo do desporto e fora dele. É o melhor marcador da história do futebol, continua a desafiar limites que, para qualquer outro, seriam inalcançáveis e persiste na dedicação e ajuda a causas nobres. Mas, mais do que os golos, o que ele representa para nós, portugueses, é algo difícil de expressar em palavras. Carrega a nossa bandeira e faz a alegria de milhões em cada entrada em campo, fazendo-os sonhar jogando melhor ou pior, como qualquer jogador, penso!
Por isso, enquanto ele continuar a jogar, enquanto continuar a representar Portugal, e mesmo depois disso, continuarei grata. Será que há dúvidas de que o caminho, para os 1000 golos ou não, será seguido com a mesma paixão e determinação? Da minha parte não me oferece dúvida. São dois ingredientes indissociáveis deste português, note-se natural da ilha da Madeira onde curiosamente se trocam as críticas por tantos elogios, gratidão e orgulho!
Parabéns e obrigada, mais uma vez, Cristiano Ronaldo por trazeres alegria a tantos dentro e fora de campo, por me ajudares a dizer qual é o meu País sem ter de recorrer ao Atlas mundial, por inspirares jovens e menos jovens a levantar a cabeça depois de um fracasso e, mais do que isso, por mostrares que apenas os grandes Homens choram e que, sem emoção o mundo não avança!
Ronaldo continua a representar algo muito maior do que os seus números e, para ele, desistir nunca foi uma opção. Para nós, portugueses, continuar a apoiá-lo também não deveria ser!