Com a evolução, será muito simples confundir a voz produzida por inteligência artificial com a voz de alguém com quem estamos extremamente familiarizados. O realismo é deveras impressionante. No limite, só iremos saber se fizermos uma qualquer pergunta, ao jeito de password, à qual a máquina não saberá responder. À primeira vista poderá parecer fácil, mas se tivermos em conta a quantidade de informação que a internet tem, aos dias de hoje, sobre aqueles que a utilizam, não é assim tão linear. Mas estas questões não se resumem à clonagem de voz.
Nos últimos anos, IA tem avançado a passos largos, trazendo consigo um novo paradigma que desafia a nossa percepção de realidade e autenticidade. Com a capacidade de criar conteúdo altamente realista, desde textos até imagens e vídeos, a IA tem levantado uma questão fundamental: vivemos na era do "tudo é fake até prova em contrário"?
Iniciei há cerca de um mês um master executivo em inteligência artificial e, se por um lado, me encontro extremamente motivada com o conhecimento que estou a adquirir, por outro, semana após semana, com conteúdos e palestras fico cada vez mais surpreendida não só com a velocidade com que os desenvolvimentos acontecem, mas, acima de tudo, com a qualidade do resultado disto que é o machine learning e o deep learning ou mesmo o chamado deep fake.
Quando vemos materializados desenvolvimentos que existiam, até há não muito tempo, apenas e só em filmes de ficção científica, começamos a questionar como poderemos aferir a veracidade de um determinado output, seja ele, música, arte ou escrita para não falar do cálculo, já que esse é obvio.
Ao dia de hoje, a inteligência artificial permite a um humano, sem qualquer know how, produzir conteúdos de elevada qualidade não só escritos, mas também falados e gravados. À distância de um clique podemos ter um podcast, um artigo, uma música ou mesmo um vídeo nosso, ou de terceiros, demonstrando um vasto conhecimento e à vontade sobre um qualquer tema que não dominamos. Se por um lado esta realidade nos transporta para a pergunta: de que serve o know-how; por outro lado leva-me a defender algo que há muito defendo. É como se virtualmente tudo, ou quase tudo, fosse possível, porém, como fica essa personagem produzida quando confrontada, ao vivo e a cores, com os conteúdos que, de forma tão sábia, vai disponibilizando nesse mundo onde ser fake, de forma extremamente convincente, nunca foi tão fácil como é agora?
É sem dúvida um tremendo avanço no mundo a todos os níveis. Estamos, porém, a entrar na era da chamada Feeling Economy, ou era da empatia que se prevê instalada em 2032. Torna-se assim fundamental que a IA seja integrada nas empresas como mais um membro da equipa tendo sempre por base que é na fusão do mundo digital com o poder da conexão offline que reside a verdadeira inteligência do futuro.
Lembremo-nos que, apesar de ser incrível, a inteligência artificial não pensa como um cérebro humano, da mesma forma que um avião não voa como um pássaro.
Este novo paradigma desafia-nos a repensar as nossas noções de realidade, autenticidade e a própria natureza da inteligência.
Artigo publicado no Jornal da Madeira, edição de 16/11/2023