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Dia da Mulher – até quando?

Dia da Mulher - até quando? Não é um título que sugere que acabe, mas sim uma vontade de que seja menos necessário que exista.

Passo a explicar.

Sempre que chega o Dia da Mulher acho que faz sentido saber ou perceber a sua origem. Durante alguns anos e como mulher que frequentou, há 30 anos, um curso tradicionalmente adotado pelo sexo masculino, engenharia mecânica, durante bastante tempo não percebia o porquê de existir um dia da mulher e não um dia do homem, por exemplo.

A minha ignorância, à época, levava-me a usar argumentos como, "só serve para discriminar mais!". Estava errada, muito errada e percebi isso quando um dia, uma mulher me explicou o que se passou nesse celebre dia 8 de Março passado e distante. Foi também essa mulher que me disse qualquer coisa como: para hoje teres direito ao que tens, muitas mulheres se sacrificaram.

Nessa altura resolvi dedicar algum tempo a perceber e conhecer um pouco mais sobre este dia. Percebi que o dia 8 de Março existe para celebrar as conquistas sociais, económicas, culturais e políticas das mulheres. Serve também para chamar atenção à igualdade de gênero no mundo.

O primeiro Dia da Mulher surge em 1909, nos Estados Unidos, como forma de honrar a greve das mulheres na indústria têxtil em Nova Iorque, que reivindicavam melhores condições de trabalho e melhores salários.

Se pensarmos que 1909 já foi há bastante tempo, talvez valha a pena refletir na razão pela qual este dia ainda é tão importante e faz tanto sentido.

Há não muito tempo, enquanto procurava uma pessoa para trabalhar em nossa casa, deparei-me com a D. Eugénia (não era o nome real da senhora) candidata ao trabalho. A D. Eugénia está reformada por invalidez e enquanto falava com ela quis perceber a razão da sua reforma e/ou invalidez. Era simples. Nas palavras dela, uma empresa de mudanças, portuguesa, percebeu a determinada altura que as mulheres também conseguiam fazer trabalho pesado e que ganhavam muito menos. Por isso mesmo, as horas extraordinárias eram mais entregues a mulheres do que a homens e a empresa preferia ter mulheres em vez de homens, que faziam o mesmo mas a ganhar mais. Isso traduziu-se numa sobrecarga do seu pulso e braço que fez com que fosse operada e deixasse de poder exercer a sua profissão.

O sumo desta história não está na capacidade, nem tão pouco na lesão. O sumo desta história está no facto de a D. Eugénia ganhar muito menos do que os homens que faziam, exatamente, o mesmo trabalho. Falamos de mudanças mas poderíamos estar a falar de uma direção financeira, por exemplo.

Por isso mesmo, quando escrevo, Dia da Mulher até quando? Não é com vontade que ele desapareça, é com vontade de que ele passe a ser, exclusivamente, história e não uma necessidade de alerta no mundo. Um alerta que vai para além de tantas atrocidades que o mundo ainda comete em Países como o Irão e o Afeganistão. Um alerta necessário também no nosso País, onde tantas empresas servem mal as mulheres violando os seus direitos.

Hoje é aquele dia em que muitas empresas, apostando na sua cultura interna, e bem, levam a cabo ações simpáticas com as mulheres que nelas trabalham, como, por exemplo, oferecer uma flor, uma caixa de chocolates... o que for. Estamos afinal a falar de experiência do colaborador e de carinho. A dúvida que sempre fica quando penso nisso, é se teria feito diferença à D. Eugénia receber flores no Dia da Mulher, ao longo dos quase 20 anos em que trabalhou numa empresa que lhe pagou muito menos a fazer o mesmo do que alguém do sexo masculino.

Dia da Mulher - sempre - mas quanto mais cedo não passar de uma memória melhor.
Afinal, falamos da cultura de serviço de uma empresa, uma aldeia ou mesmo de um País.

Feliz dia da Mulher e votos de bom serviço!