A ideia de que os jovens não apreciam bom serviço anda um pouco por aí.
São várias as vezes que oiço opiniões de que a nova geração não quer saber do serviço.
Expressões como "Vivem num mundo digital", "Não reparam, estão sempre a olhar para o telemóvel", "Por eles o ideal era uma máquina a servir!", etc. tornaram-se algo comuns.
Não sou dessa opinião. Se por um lado tenho dois filhos jovens que me servem de amostra para a observação, por outro, posso juntar as estes dois filhos de 18 e 14 anos, mais 3 sobrinhas e 3 filhos em outsourcing, como, carinhosamente, chamo aos meus enteados. A somar a todos estes as suas namoradas e namorados e todos os jovens com quem profissionalmente me cruzo. Acredite que são muitos e formam uma boa amostra.
É um engano acreditar que a importância do serviço ou do bom serviço é relativizada pelos jovens. Há muito que o digo e não me faltam as histórias que o comprovam. Se quisermos provas mais científicas, basta uma rápida leitura ao livro "The Feeling Economy" de Roland T. Rust e Ming-Hui Huang onde se pode ler "como a inteligência artificial está a criar a era da empatia".
Na sexta feira passada uma Cliente partilhava comigo a sua experiência ao visitar um restaurante que escolheu por ter visto a entrevista a um dos seus proprietários num dos lives que faço "O serviço está em todo o lado". Era o aniversário da sua filha. A mesa era grande e com várias faixas etárias: pais, avós, tios e primos de várias gerações, desde os já adultos aos ainda bem jovens.
Por saber que ela lá iria, fiquei curiosa com o feed-back.
- Que tal o jantar? - perguntei.
- Gostamos imenso! - respondeu sem hesitar.
- Fico contente - reforcei com o sentimento de responsabilidade próprio de quem recomenda um local e/ou um serviço.
- Sabe o que achei mais incrível? - perguntou-me.
- O Jorginho cantar a ementa? - Respondi devolvendo a pergunta e referindo-me ao meu entrevistado e essa arte já bem conhecida por muitos.
- Isso também, mas isso já estava à espera. O que mais me surpreendeu foi o facto de os mais novos terem reparado em todos os detalhes do serviço. Nunca pensei! - respondeu ainda surpresa com o fenómeno.
- Não tenho dúvida. Quais foram os detalhes? - perguntei fruto, também, de alguma deficiência profissional.
- No final do jantar comentavam entre eles coisas como "Oh Tia, reparaste que o Jorginho nos veios trazer à porta quando saímos!" e "Reparaste que ele estava sempre a perguntar se estava tudo bem na nossa mesa!" - descreveu-me como sendo apenas alguns dos detalhes apontados.
A surpresa da minha Cliente é muitas vezes a surpresa de muitos de nós a achar que os jovens são menos sensíveis ao bom serviço.
Acredite que não são e, da mesma forma que a inteligência artificial nos vai obrigar a sentir mais e "pensar" menos o mesmo se passa com esta geração que quando perante uma interação humana são tão ou mais sensíveis do que qualquer outra pessoa de outra geração.
Moral de história: nunca subestimar a exigência dos jovens ao serviço, para além de muito críticos são excelentes promotores de qualquer negócio.